O saldo dos brasileiros na Copa do Mundo de Clubes
A participação de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras na Copa do Mundo de Clubes da FIFA 2025 representou um marco histórico para os clubes brasileiros. Quatro equipes do país chegaram às oitavas de final, reforçando o peso do Brasil no cenário internacional. Apesar de nenhum deles ter alcançado a grande final, o desempenho coletivo foi expressivo, com vitórias emblemáticas sobre europeus e uma performance que merece ser analisada com profundidade.
Coletivamente, os times do Brasil conquistaram vitórias contra Chelsea, PSG e Inter de Milão — algo impensável pela maioria antes de a bola rolar. A performance mostrou que há qualidade e que, quando bem preparados, podemos competir com os grandes da Europa. No entanto, o fato de nenhum time alcançar a final, e caírem sem muito castigar os rivais do Velho Continente no mata-mata, expõe a lacuna que ainda existe em termos de profundidade de elenco, intensidade física, gestão de jogo e, claro, o abismo financeiro e até mesmo técnico. Em todos os confrontos contra europeus em fases decisivas, os brasileiros acabaram superados.
Do ponto de vista financeiro, a Copa do Mundo de Clubes foi um sucesso para os clubes brasileiros. Todos garantiram ao menos US$ 15 milhões apenas por participar da fase de grupos, com os valores subindo consideravelmente nas fases eliminatórias. No total, os quatro clubes juntos arrecadaram mais de R$ 800 milhões, valor que pode representa um ponto de inflexão para os cofres.
Botafogo na Copa: história contra PSG, frustração contra o Verdão
O Botafogo foi talvez o time nacional com o início mais surpreendente do torneio. Na fase de grupos, duas vitórias (Seattle e PSG) e derrota para o Atlético de Madrid. O início glorioso deu-se, sobretudo, no triunfo sobre sobre o poderoso PSG, impulsionando o clube à liderança do grupo, chegando com moral ao mata-mata. Inclusive, o gol solitário de Igor Jesus (simbólico “last dance” do atacante) foi o único sofrido por Donnarumma até aqui. A determinação tática apresentada nos Estados Unidos, sobretudo na fase de grupos, talvez seja o ponto mais positivo que o time mostrou em campo. Na oitavas, enfrentou o Palmeiras e caiu na prorrogação, mas em um embate em que o Verdão foi amplamente senhor do jogo.
A eliminação levou à demissão do técnico Renato Paiva, mas não apaga o bom futebol apresentado e, principalmente, a atitude competitiva diante de adversários claramente mais fortes, como Atlético e Paris Saint-Germain. O saldo esportivo é positivo, e o financeiro também: o Botafogo embolsou cerca de 26,7 milhões de dólares pela campanha, algo em torno de R$ 145 milhões.
Para a sequência da temporada, o Fogão trouxe Davide Ancelotti, filho do treinador da Seleção Brasileira, para o cargo de Paiva. É uma aposta. O elenco deverá ser reformulado após análise do novo comandante, acentuada pelas saídas de Igor Jesus e Jair, ambos para o Nottingham Forest. Gregore também pode sair, tendo em vista proposta do Al Rayyan, equipe comandada por Arthur Jorge do Catar.
Flamengo: fez bonito, mas caiu com goleada na Copa do Mundo de Clubes
O Flamengo, por sua vez, também teve momentos marcantes. Na fase de grupos, conseguiu uma virada histórica sobre o Chelsea, vencendo por 3 a 1 com atuações decisivas de Bruno Henrique e Danilo. Essa vitória levantou o moral da equipe e alimentou a esperança de um avanço mais longo. No Brasil, setores mais sensacionalistas da imprensa elevaram o time a uma posição que, ainda, não condiz com a realidade em termos globais.
No entanto, o rubro-negro caiu nas oitavas de final diante do Bayern de Munique, que soube explorar as fragilidades defensivas do time brasileiro. O Fla de Filipe Luís não fugiu de sua característica, tentou um jogo de igual para igual e sucumbiu com uma goleada de 4 a 2, que poderia ter sido ainda mais ampla. Apesar da eliminação precoce, o Flamengo sai do torneio com saldo respeitável — em campo, pela competitividade, e fora dele, com premiação de US$ 27,7 milhões (R$ 151 milhões).
Líder do Brasileirão, com 24 pontos, o que se vislumbra é um segundo semestre com o Fla brigando por tudo, como espera-se o elenco mais recheado das Américas. Wallace Yan, cria do Ninho, volta para o Brasil valorizado pelas boas atuações e momentos decisivos em que não titubeou. Gerson não atua mais pelo clube e está a caminho da Rússia para vestir a camisa do Zenit. O lateral-direito Wesley é outro que pode dar adeus. Segundo informações do ge, ele teria acertado salários e termos para um contrato de cinco anos com a Roma. Pulgar, com fratura no quinto metatarso, deve desfalcar o time por algum tempo.
Palmeiras: adiado o sonho de conquistar a Copa do Mundo
O Palmeiras apresentou sua habitual consistência e solidez tática. Na fase de grupos, terminou invicto, com uma vitória e dois empates, mantendo o controle dos jogos mesmo sem encantar – empilhou chances desperdiçadas contra o Porto. Esta, aliás, uma marca ofensiva negativa da equipe na temporada: a deficiência na conclusão, apesar de criar oportunidades. Nas oitavas, eliminou o Botafogo na prorrogação, mas foi superado nas quartas pelo Chelsea, em um duelo duro decidido por um gol contra. O Verdão mostrou mais uma vez que é competitivo em torneios internacionais, mas ainda falta um salto qualitativo para transformar presença constante em título. A campanha rendeu ao clube cerca de 39,8 milhões de dólares (R$ 217 milhões), valor significativo que deve reforçar o projeto esportivo alviverde.
Richard Ríos foi um dos grandes nomes do plantel palmeirense na competição e sai extremamente valorizado. Allan é outro que fez excelente competição e volta em alta. Ainda no meio-campo, Aníbal Moreno iniciou muito bem o torneio, mas perdeu posição após contusão, Maurício pede passagem e Rafael Veiga, ídolo do torcedor, decepcionou com atuações apagadas.
Piquerez, sempre muito seguro e constante em boas atuações, foi outro destaque, além de Paulinho, sempre entrando muito bem, apesar de poder atuar pouco por conta da lesão na canela que atormenta o jogador desde o ano passado e parece não ter solução. Ele, inclusive, está fora da temporada alviverde para de submeter a nova cirurgia. Quem não veste mais a camisa verde é Estêvão, que se despediu com um gol contra o Chelsea, equipe que irá defender a partir de agora – para o seu lugar, o paraguaio Ramón Sosa foi contratado junto ao Nottingham Forest.
Flu: surpreendentemente, o melhor brasileiro no Mundial
Dos brasileiros, o Fluminense foi o que chegou mais longe na Copa do Mundo de Clubes e, consequentemente, aquele que mais empolgou. Apesar de, antes de a bola rolar, a opinião pública enxergar o contrário, dada a comparação com os demais elencos do Brasil no torneio. Com futebol estruturado, bateu a Inter de Milão por 2 a 0 nas oitavas e passou pelo Al Hilal nas quartas, alcançando a semifinal com autoridade.
Contra o Chelsea, porém, o time de Renato Gaúcho não resistiu à força física e organização dos ingleses, perdendo por 2 a 0, com dois gols de João Pedro, cria de Xerém. Ainda assim, a campanha foi histórica e garantiu ao Tricolor o maior prêmio financeiro entre os brasileiros: US$ 60,8 milhões, cerca de R$ 331 milhões. Além disso, mostrou que o projeto do clube é capaz de competir em alto nível, mesmo com um plantel mais enxuto do que os rivais europeus.
Jhon Arias (eleito quatro vezes o melhor em campo) é um dos grandes destaques individuais do Mundial. Assim como Ignácio e Freytes, com atuações impecáveis na linha de três zagueiros, ao lado de Thiago Silva (que dispensa-se comentários). Martinelli e Hercules, decisivos e com grandes atuações, retornam em alta. Por outro lado, Ganso, muito apagado, perde espaço. Sem ele, a equipe performou melhor. Renato parece ter o elenco na mão e uma espinha dorsal muito bem definida (e qualificada) para a sequência da temporada do Flu.
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