Flamengo enfrenta o Everest, escala até onde pode, mas o Bayern mostra o que é jogar em outro patamar
Há derrotas que doem pela forma, outras pelo placar. A do Flamengo para o Bayern de Munique, por 4 a 2, nas oitavas de final do Mundial de Clubes da FIFA, dói por ser uma mistura das duas — mas, ao mesmo tempo, é também exemplo da diferença que ainda separa o futebol sul-americano do topo europeu. E mesmo na queda, há dignidade. O Flamengo foi valente. Só que valentia, sozinha, não é suficiente.
O jogo começou com o Flamengo tentando fazer o que prometeu e não fugiu de sua característica de marcar, competir, jogar. Porém, falhou e falhou muito. Por nervosismo, talvez? Mas que a deficiência técnica, longe de ser uma marca desta equipe, foi determinante, não há dúvidas. Em poucos minutos, dois gols entregues ao bávaros com erros que os deixaram à feição para exercerem a letalidade que lhes é peculiar.
Erros determinam derrocada do Flamengo diante de um Bayern letal
Taticamente, Felipe Luís tentou ser fiel ao modelo que o seu Flamengo construiu: posse controlada, ocupação ofensiva dos corredores, pressão na saída adversária. Mas enfrentou um rival que joga no erro do outro — e erra pouco. Com Kimmich ditando o ritmo, Musiala flutuando entre as linhas, e Kane em noite de artilheiro impiedoso, o Bayern explorou com frieza as falhas defensivas rubro-negras, principalmente nas costas dos laterais e nos momentos de transição. Arrascaeta, um dos melhores jogadores do nosso continente, simplesmente terminou o jogo com sua pior atuação com a camisa rubro-negra.
O Flamengo sentiu. Mais do que o gol de empate, sentiu o abalo de ver que cada vacilo virava um castigo. O segundo tempo teve um time tentando resistir e outro jogando com confiança de quem já tinha o jogo na mão.
Não faltou entrega. Mas faltou repertório defensivo para conter um time que exige quase perfeição. É possível dizer que o Bayern expôs a diferença entre ser competitivo no Brasil e ser competitivo no mundo, apesar das boas atuações do Fla na fase de grupos, sobretudo na convincente vitória sobre o Chelsea.
É o tipo de lição que machuca, mas ensina. O Flamengo caiu tentando jogar, não se acovardou — e talvez esse seja o maior mérito da noite. Mas, ao mesmo tempo, a partida escancarou que a coragem precisa vir acompanhada de preparação tática e mental para suportar o peso do jogo grande. O Bayern foi gigante, sim, mas o Flamengo também ajudou a construir o próprio colapso.
No fim, restam os aplausos por tentar. E o aprendizado. Porque no Mundial não basta ter camisa, torcida ou história. É preciso ter o jogo. E, por enquanto, o do Flamengo ainda não é do tamanho dos gigantes da Europa.
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