Ancelotti na Seleção: um raro acerto da CBF em meio ao caos
Em meio a uma sucessão de erros administrativos, trocas de comando mal planejadas e crises políticas internas, a CBF finalmente acertou. A contratação de Carlo Ancelotti para comandar a Seleção representa não apenas um acerto técnico, mas uma tentativa de resgatar a credibilidade perdida nos últimos anos. Em meio ao caos, foi um raro lampejo de lucidez da entidade que deveria zelar pelo maior patrimônio futebolístico do planeta.
Desde a saída de Tite após a Copa de 2022, a CBF mergulhou em um verdadeiro labirinto de incertezas e decisões equivocadas. A ausência de um plano claro para a transição no comando técnico expôs o amadorismo de uma gestão mais preocupada com articulações políticas do que com o desempenho da Seleção. O improviso virou regra: Ramon Menezes, claramente sem preparo para o tamanho do cargo, assumiu interinamente, e Fernando Diniz foi escolhido para dividir atenção entre Fluminense e Seleção. Uma escolha que, a despeito da competência de Diniz, nunca fez sentido no cenário da elite do futebol mundial.
Enquanto isso, a instabilidade política na entidade, marcada por disputas internas, decisões contestáveis e a figura controversa de Ednaldo Rodrigues, só agravava a situação. O comando da CBF virou palco de embates judiciais e interesses pessoais, minando qualquer tentativa de estabelecer um projeto técnico de longo prazo. A Seleção, sem comando definido, sem identidade e sem rumo, começou a perder algo que sempre a diferenciou: o respeito automático de adversários.
Por que Ancelotti na Seleção faz Sentido
É nesse cenário que a chegada de Ancelotti ganha ainda mais relevância. Multicampeão, respeitado globalmente e mestre em gestão de grupo. O italiano carrega no currículo exatamente aquilo que falta à Seleção nos últimos anos: estabilidade, liderança técnica e capacidade de lidar com pressão. Ancelotti é conhecido por extrair o melhor de grandes craques e por cultivar um ambiente de harmonia e foco — algo que a Seleção perdeu em meio ao turbilhão político e esportivo em que se encontra.
Sua chegada traz também um elemento simbólico importante: o reconhecimento de que o futebol brasileiro, apesar de sua tradição, precisa se reconectar com as melhores práticas do futebol moderno. Apostar em Ancelotti é um passo nessa direção, um gesto de humildade de uma entidade marcada pela arrogância, acreditando que bastava vestir amarelo para vencer.
É cedo para prever resultados. Mas, ao menos, há uma esperança fundamentada em competência. Em meio a tantos tropeços — dentro e fora de campo — a contratação de Carlo Ancelotti representa, enfim, um acerto. Um raro, mas bem-vindo, momento em que a CBF parece ter deixado de lado o improviso e apostado na seriedade.
Que seja o início de uma nova fase. Porque o futebol brasileiro — e sua torcida — merecem mais do que as trapalhadas que se tornaram regra nos últimos anos.