Caio César está há seis temporadas na Ásia e hoje defende o Nam Dinh, do Vietnã (Foto: Divulgação/Nam Dinh FC)
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O volante amigo de Raphinha e Gabriel Magalhães que hoje brilha no Vietnã

Desde pequeno, o volante Caio César já sabia que a bola não era apenas um brinquedo era a promessa de destino. “O futebol surgiu na minha vida desde criança. Eu sempre gostei de bola, de chutar, de jogar. E sempre falava pra minha mãe que eu queria ser jogador”. Essa convicção, nascida com ele na Baixada Santista, terra sagrada que revelou muitos astros, o levou a trilhar seu caminho.

O menino de Cubatão que tinha Robinho como ídolo, encontrou longe de casa sua primeira oportunidade: “Um empresário de Goiânia me viu jogando e me levou para o Vila Nova. Peneirão de 60 moleques, aquela loucurada. Eu passei, graças a Deus, em três dias de teste. Foi quando tudo começou. Nem acreditei que eu teria essa oportunidade. Mas, é coisa de Deus, né? Deus é maravilhoso”. Em 2014, então, com a camisa do Tigre, o primeiro jogo como profissional e sonho de menino viraria realidade.

Veio o Avaí, onde viu de perto surgir dois craques da Seleção Brasileira e do futebol mundial: Raphinha, do Barcelona – inclusive foi um dos cotados ao último prêmio da Bola de Ouro -, e Gabriel Magalhães, referência do Arsenal.

“O Raphinha já era um craque desde aquela época, ele e o Gabriel. Era fácil jogar com ele. Tivemos muitas resenhas, coisas de moleque. Ele é parceiro. Sobre o Gabriel Magalhães, frequentávamos a casa um do outro, fazíamos churrasco, resenha… É um parceiro também, um irmão de coração”, revela.

Volante mais técnico do que marcador, Caio César viveu passagem marcante pelo Avaí e partiu para a Ásia. Com mais de 200 jogos no continente, disputou seis temporadas no Japão e hoje, aos 30 anos e com uma carreira sólida, está no Nam Định, do Vietnã, (inclusive vestindo a camisa 10) país que tem atraído muitos brasileiros.

Caio César, volante do Nam Dinh FC, foi revelado no Avaí e jogou com Raphinha e Gabriel Magalhães no clube catarinense

As amizades de Caio César com Raphinha e Gabriel Magalhães

Apesar de sua carreira profissional começar no Vila Nova, Caio se transferiu para o Avaí ainda vivendo a fase de transição da base para o time de cima. Em meio à rotina de treinos do volante no Sub-20 e a expectativas de se manter no profissional do Leão, Caio César encontrou dois verdadeiros companheiros. Eram garotos, porém ele já previa que ambos seriam craques. No Avaí de 2015, ele dividiu vestiário com Raphinha e Gabriel Magalhães, hoje nomes consagrados do futebol mundial e da Seleção Brasileira. Caio lembra com carinho:

Profissionalmente eu já tinha jogado a Série B no Vila, me profissionalizei lá e depois fui para o Avaí, mas com essa situação de formação ainda. Então, eu treinava no profissional e descia para jogar para o Sub-20. Naquele ano, acabei ficando em definitivo no Sub-20, e foi quando eu comecei a jogar com o Raphinha e o Gabriel Magalhães. E, mano, foi top. O Raphinha já era um craque desde aquela época, ele e o Gabriel.

Era fácil jogar com ele (Raphinha). A mentalidade dele, a forma como ele pensa, a qualidade técnica dele, finalização, drible, tudo… Não é à toa que ele chegou onde chegou. A gente era parceiro, tivemos muitas resenhas, coisas de moleque, do dia a dia. Ele é uma pessoa que merece estar aonde está. Foi um prazer ter jogado com ele. Ele é parceiro.

Atacante Raphinha, astro do Barcelona e Seleção Brasileira, com o volante Caio César em começo de carreira no Avaí

Raphinha e Caio César (Foto: Acervo pessoal)

Sobre o Gabriel Magalhães, a gente ficou bem amigos. Frequentávamos a casa um do outro, fazíamos churrasco, resenha… Saíamos juntos também de vez em quando na nossa folga. Éramos mais amigos também porque ele era mais novo, tinha subido (pro profissional) e a gente tem esse negócio de abraçar o cara, de ajudar o mais novo. Ele também já era um jogador fantástico, tanto que foi muito rápido como a carreira dele foi se desenvolvendo. É um cara que eu respeito muito. Gosto muito dele e torço muito pela carreira dele. Foi um prazer ter jogado com o Gabriel, um parceiro também, um irmão de coração.

Mais tarde, portanto, Caio César foi promovido definitivamente como volante do time principal. Peça importante do elenco que conquistou o acesso à elite com o vice-campeonato da Série B de 2016, o talento do volante o fez disputar mais de 50 partidas pelo clube.

Destino: Ásia

Em 2019, a oportunidade de atuar no exterior saltou aos olhos de Caio. Então, aos 23 anos de idade, o Japão e o Kawasaki Frontale foram o destino. Embora tenha atuado pouco no clube, manteve a resiliência e o foco para, mais tarde, brilhar na Terra do Sol Nascente com outra camisa: cinco temporadas de V-Varen Nagasaki, clube que mais defendeu na carreira, com 173 partidas, e 13 gols marcados.

Consegui conquistar esses números, é muito gratificante. Poucas pessoas estudam sobre futebol da Ásia. Não é fácil jogar aqui, não. Por exemplo, no Japão, onde fiquei praticamente a metade da minha carreira, onde eu consegui construir a minha história, é um nível altíssimo de futebol. Os japoneses são muito preparados, muito profissionais. Então, você tem que estar bem pra jogar em alto nível. Se você não estiver bem, você não consegue render, não consegue jogar e não fica muito tempo lá, não. Eu acho que é um nível muito alto e cada ano que passa está melhor.

Títulos no Vietnã e uma certa saudade do Brasil (mas nada de pensar em voltar agora!)

Atravessar o mundo para jogar em outro país não é tarefa fácil, e ele tem consciência de cada passo. O volante chegou ao Nam Định em agosto de 2024 e logo em sua primeira temporada no Vietnã, Caio César contribuiu para que clube conquistasse o título da V-League, a liga nacional, e também da Supercopa.

No começo, os primeiros brasileiros que vieram pra cá, se destacaram e conseguiram elevar muito o nível do país. Aí, os clubes querem mais. Eu mesmo cheguei no passado aqui. Já fomos campeões, eu e mais dois brasileiros, desempenhando um bom papel, sempre em destaque. Então, os outros clubes também veem isso e querem trazer mais brasileiros, querem montar um time parelho, que também consiga dar resultado. Hoje o brasileiro está bem no mercado, está desenvolvendo o futebol do país. Então, eles vão buscar. Aí você abre as portas para os outros, para inclusive demonstrarem aqui um bom papel também.

Com contrato até 2028, o volante Caio César não esquece do Brasil, sobretudo, não esquece do churrasco. Mas também é esse o passatempo preferido com a família para lembrar da terra natal: “Pra matar a saudade eu faço o meu churrasquinho, é algo que eu sinto falta lá do Brasil e que aqui não tem. Eu faço em casa, compro a carne, pego a família e é isso!”

Apesar de um breve retorno ao Brasil em 2024, onde foi campeão estadual pelo CRB, o volante afirma que não pensa em voltar tão cedo.

Aliás, só para encerrar carreira, pois enxerga que é na Ásia que deve estar.

Eu tenho contrato até 2028 e estou muito feliz aqui. Estou conseguindo jogar, desempenhar o meu papel, mostrar meu futebol e minha qualidade. Agora eu não penso em voltar para o Brasil, não. Tive essa experiência no CRB, foi muito bom também. Inclusive, sou muito grato ao clube, à torcida. Mas eu construí a minha carreira aqui na Ásia, então eu acho que é aqui que eu tenho que estar. Pretendo um dia voltar para parar, jogar mais uns dois anos no Brasil e parar. Mas no momento eu penso em ficar mais alguns anos aqui na Ásia.

Dos tempos em que sonhava ser jogador nos campinhos de Cubatão, passando pela profissionalização em Goiás e pelas amizades que carregou com Raphinha e Gabriel Magalhães, até se firmar como protagonista no futebol asiático, a história de Caio César traduz a verdadeira persistência de quem nunca deixou de acreditar. Hoje, no Vietnã, ele vive aquilo que começou como um sonho de menino: transformar paixão em carreira, superar fronteiras e consolidar-se como referência em um mercado cada vez mais atento ao talento brasileiro.

Entrevista na íntegra com Caio César

Vai Pro Gol: Caio, como o futebol surgiu na sua vida? Conte-nos um pouco da sua trajetória, inclusive na infância e adolescência. Quando você decidiu que o futebol seria o seu futuro? Além disso, você chegou a trabalhar com outra coisa?

Caio César: O futebol surgiu na minha vida desde criança. Eu sempre gostei de bola, de chutar, de jogar. E sempre falava pra minha mãe que eu queria ser jogador. Lembro da minha época, ainda bem novinho, assistindo o Robinho no Santos. Então, eu me inspirava muito nele na época. Acho que foi amor, à primeira vista ao futebol, desde o começo. Eu nunca imaginei fazer outra coisa do que jogar futebol. Nunca trabalhei de nada, sempre trabalhando desde novo pra ser profissional e chegar até onde eu cheguei.

Vai Pro Gol: Você é da Baixada Santista, terra que revelou muitos jogadores pro futebol, sobretudo por conta do Santos. Porém, seu início profissional foi no Vila Nova. Como você chegou ao clube goiano?

Caio César: Sim, a Baixada Santista já revelou vários craques, né? Como o Neymar, o Robinho, e assim vai. Mas eu joguei um campeonato lá, um campeonato importante que, aliás, nem sei se existe mais. Joguei pelo time da minha cidade, um time de projeto mesmo. Eu disputei esse campeonato e me destaquei. Um empresário de Goiânia me viu jogando lá e me levou para o Vila para fazer teste. Aquele peneirão de 60 moleques, aquela loucurada. E aí, eu passei, graças a Deus, em três dias de teste, eu passei. E foi quando tudo começou. Nem acreditei que eu teria essa oportunidade. Mas, é coisa de Deus, né? Deus é maravilhoso.

Vai Pro Gol: Em seguida, você atuou no Avaí. Inclusive, subiu para o profissional junto com o Raphinha, hoje, destaque do futebol mundial. Vocês ainda mantêm contato? Como é a sua relação com ele e como eram os tempos de Avaí em que atuaram juntos?

Caio César: É verdade. Depois fui para o Avaí (2015). Profissionalmente eu já tinha jogado a Série B no Vila, me profissionalizei lá e depois fui para o Avaí, mas com essa situação de formação ainda. Então, eu treinava no profissional e descia para jogar para o Sub-20. Naquele ano, acabei ficando em definitivo no Sub-20, e foi quando eu comecei a jogar com o Raphinha e o Gabriel Magalhães. E, mano, foi top.

O Raphinha já era um craque desde aquela época, ele e o Gabriel. Sempre foram craques. Um dos nossos principais jogadores. Era fácil jogar com ele (Raphinha). A mentalidade dele, a forma que ele pensa, qualidade técnica, finalizações, de dribles, tudo… Não é à toa que ele chegou onde ele chegou. A gente era parceiro. Tivemos muitas resenhas, coisas de moleque, do dia a dia. Ele é uma pessoa que merece o que está aí. O nível onde ele está. E todos nós sabemos que ele atingiu esse nível pela qualidade que ele sempre teve. Foi um prazer ter jogado com ele. Ele é parceiro.

Vai Pro Gol: Você também criou uma relação de amizade com Gabriel Magalhães e atuaram juntos no clube. Nos fale sobre sua amizade com ele!

Caio César: Sobre o Gabriel Magalhães, a gente ficou bem amigos. Frequentávamos a casa um do outro, fazíamos churrasco, resenhaSaíamos juntos também de vez em quando na nossa folga. Éramos mais amigos também porque ele era mais novo, tinha subido (pro profissional) e a gente tem esse negócio de abraçar o cara, de ajudar o mais novo. Ele também era um jogador fantástico. A gente já sabia. Tanto que foi muito rápido como a carreira dele foi se desenvolvendo. É um cara que eu respeito muito. Gosto muito dele e torço muito pela carreira dele. Foi um prazer ter jogado com o Gabriel, é um parceiro também, um irmão de coração.

Vai Pro Gol: Caio César, você é um volante com boa marcação e, sobretudo, muito técnico. Após um bom tempo atuando no futebol asiático e muita experiência no Japão e no Vietnã (superando a marca de 200 jogos no continente), como você avalia o futebol por aí?

Caio César: Sobre a minha passagem na Ásia, é gratificante. Conseguir conquistar esses números é muito gratificante. Poucas pessoas estudam sobre futebol da Ásia. Não é fácil jogar aqui, não. Por exemplo, no Japão, onde fiquei praticamente a metade da minha carreira, onde eu consegui construir a minha história, é um nível altíssimo de futebol. Os japoneses são muito preparados, muito profissionais. Então, você tem que estar bem pra jogar lá em alto nível. Se você não estiver bem, você não consegue render, não consegue jogar e não fica muito tempo lá, não. Eu acho que é um nível muito alto e cada ano que passa está melhor.

Aqui no Vietnã, hoje, eu digo a mesma coisa. É óbvio, eu acho que o Japão ainda é um nível um pouco maior do que no Vietnã, mas também não é moleza. Então você sempre tem que estar bem preparado. Sempre se cuidando. Tentar jogar o seu melhor, porque se não, você vai embora e eles trazem outro. É assim, entendeu? Então eu acho que o nível é bom. Um nível muito bom mesmo.

Vai Pro Gol: Atualmente, o futebol vietnamita tem atraído muitos jogadores brasileiros. Na sua opinião, por qual motivo?

Caio César: No começo, os primeiros brasileiros que vieram pra cá, se destacaram e conseguiram elevar muito o nível do país. Aí, os clubes querem mais. Eu mesmo cheguei ano passado aqui. Já fomos campeões, eu e mais dois brasileiros, desempenhando um bom papel, sempre em destaque. Então, os outros clubes também veem isso e querem trazer mais brasileiros, querem montar um time parelho, que também consiga dar resultado. Hoje o brasileiro está bem no mercado, está desenvolvendo o futebol do país. Então, eles vão buscar. Aí você abre as portas para os outros, para inclusive demonstrarem aqui um bom papel também.

Vai Pro Gol: Ainda sobre Vietnã, você renovou seu contrato até 2028. Entretanto, pensa em retornar um dia ao futebol brasileiro ou pretende permanecer na Ásia por mais tempo após esse período? Sente saudades do seu país?

Caio César: Sim, pretendo (permanecer). Eu tenho contrato até 2028 e estou muito feliz aqui. Estou conseguindo jogar, desempenhar o meu papel, mostrar meu futebol e minha qualidade. Agora eu não penso em voltar para o Brasil, não. Tive essa experiência no CRB, foi muito bom também, há praticamente um ano e meio. Fui feliz lá, a cidade é maravilhosa. O clube também, não tenho do que reclamar. Inclusive, sou muito grato ao CRB, à torcida. Mas eu construí a minha carreira aqui na Ásia, então eu acho que é aqui que eu tenho que estar.

Pretendo um dia voltar para parar, jogar mais uns dois anos no Brasil e parar. Mas no momento eu penso em mais alguns anos ficar aqui na Ásia. E para matar a saudade eu faço o meu churrasquinho, é algo que eu sinto falta lá do Brasil e que aqui não tem. Eu faço em casa, compro a carne, pego a família e é isso!

Vai Pro Gol: Caio, por fim, quais os maiores sonhos que você diria que já realizou e quais você busca realizar, tanto na carreira quanto na vida?

Volante Caio César, esposa e filhos comemoram título no Vietnã

Caio César: Então, cara, meus sonhos foram, primeiro, ter uma família: minha esposa, meus filhos. Depois, ser jogador de futebol, como sempre foi o meu sonho, e Deus me deu essa graça de ser profissional. Ter conseguido as minhas conquistas. Tanto como títulos, como financeiramente também, e poder mudar a vida da minha família. Meus sonhos estão realizados. Agora, daqui pra frente, o que vier é bênção.

Acho que hoje, na minha carreira, não tenho um grande sonho, acho que eu já realizei tudo o que eu queria. Mas eu sempre gosto de trabalhar para manter a minha cabeça boa, gosto de me reinventar como jogador pra estar sempre em alto nível, sempre aparecendo. Quero sempre estar bem, sempre estar com o corpo bem, jogando bem. E o resto é consequência. É aí que as coisas boas acontecem.

Crédito das fotos:
Divulgação/Nam Định, Divulgação/V-Varen Nagasaki e Acervo Pessoal


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