Corinthians deve até “primo pobre” do Palmeiras
O momento financeiro do Corinthians não poderia ser mais delicado — e, em certos aspectos, até constrangedor. Em meio a uma série de dívidas que ameaçam culminar em um novo transfer ban, um nome em especial chama atenção na lista de credores: a Sociedade Esportiva Palmeirinha, pequeno clube do interior de São Paulo, cuja fundação foi inspirada no Palmeiras.
A ironia não passou despercebida. Arquirrival histórico do Verdão, o Corinthians hoje deve dinheiro até para um clube que carrega o nome — e parte da identidade — do adversário. A pendência de R$ 48 mil com o Palmeirinha, da cidade de Porto Ferreira, foi revelada em reportagem do site da ESPN, publicada no último dia 18. A reportagem cita a extensa lista de credores aos quais o Timão deve repasses ou pagamentos referentes a negociações, comissões e mecanismos de solidariedade. O Alvinegro de Parque São Jorge tinha até o último dia 17 de julho para quitar a primeira parcela de acordo (somados os valores, total de R$ 4,5 milhões), porém não o fez.
Ironia e realidade dura no Corinthians
Fundado em 1955, o Palmeirinha, que não disputa torneios oficiais desde 2016, é um modesto clube do interior paulista e leva esse nome em homenagem ao Palmeiras, clube de coração de seus fundadores. Embora sem qualquer relação institucional com o time do Allianz Parque, a ligação simbólica é inevitável — e, neste caso, irônica. Ver o Corinthians devedor de um “parente pobre” do seu maior rival escancara a que ponto chegou a crise financeira que atinge o clube de Parque São Jorge. O balanço financeiro de 2024 aponta um endividamento bruto na casa de R$ 2,568 bilhões.

Transfer ban à vista
Além da dívida com o Palmeirinha, o Corinthians enfrenta riscos concretos. O Timão já está sob alerta de novo transfer ban (quando um clube fica temporariamente proibido de registrar jogadores) devido a inadimplências com diversas equipes. Entre elas, Criciúma e Cuiabá, que entrou com pedido na Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) da CBF solicitando a aplicação da sanção. O Dourado briga para receber o valor estipulado quando da venda do volante Raniele, realizada em janeiro de 2024.
Chama a atenção, inclusive, a presença de mais times pequenos do cenário nacional, como Grêmio Osasco (R$ 1,6 milhão) e União Suzano (R$ 43 mil). Também constam na relação de credores nomes de atletas como Róger Guedes, Jadson e Balbuena. Importantes agentes, como André Cury, Marcelo Robalinho e Paulo Pitombeira idem.
A situação se agrava com a recorrência dos atrasos. A FIFA, em abril, já havia punido o clube com um bloqueio temporário de registros por causa da dívida com o Argentinos Juniors, referente à contratação de Fausto Vera, hoje no Atlético-MG. A entidade, entretanto, suspendeu a punição spós pagar emergencialmente a quantia devida. Recentemente, Memphis Depay causou alvoroço por faltar em treino devido a atrasos em seus vencimentos e premiações.
Reflexo de anos de má gestão
A dívida com o Palmeirinha, embora modesta em termos numéricos, é simbólica. Representa o acúmulo de decisões mal planejadas, contratações caras sem respaldo financeiro e acordos feitos sem a devida responsabilidade fiscal. Clubes formadores, que dependem desses repasses mínimos, sofrem com a inadimplência de gigantes como o Corinthians.
Seja por obrigação contratual ou por dignidade institucional, o Timão terá que lidar com essa herança incômoda. Enquanto isso, o torcedor observa, incrédulo, a conta de anos de desequilíbrio finalmente chegar — com juros e constrangimentos.
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